HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO transplante de medula óssea alogênico (TMO) é parte essencial do tratamento para pacientes com leucemia aguda. As disparidades regionais no acesso aos serviços de saúde no Brasil impactam diretamente os índices de mortalidade e sobrevida destes pacientes. Isso se torna ainda mais crucial no contexto da Região Norte, onde não há TMO alogênico pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
ObjetivosAvaliar o número de pacientes com leucemia mieloide aguda aos quais houve indicação de transplante de medula óssea e quantos obtiveram acesso ao procedimento, no período de 2020 a 2024. Bem como, analisar o tempo entre a indicação e a realização do transplante.
Material e métodosTratou-se de estudo observacional, descritivo e retrospectivo realizado no Hospital Ophir Loyola em Belém, no Pará. Foram avaliados 135 prontuários de pacientes com diagnóstico de leucemia mieloide aguda entre os anos de 2020 e 2024. Após aplicação de critérios de exclusão, foram submetidos à análise 91 prontuários. Para análise estatística, utilizou-se o teste de Mann-Whitney, teste de associação qui-quadrado de Pearson e teste exato de Fisher. Foram analisadas variáveis como sexo, idade, data da indicação e realização do TMO e motivo da não realização.
ResultadosA mediana de idade ao diagnóstico foi de 49 anos, variando entre 19 e 85 anos, com predominância do sexo feminino (52,75%). A mediana de tratamentos instituídos foi 1, variando de 1 a 3. Apenas 30 (32,96%) pacientes foram encaminhados ao TMO. O tempo médio entre diagnóstico e encaminhamento para transplante foi de 3 meses, variando entre 1 e 10 meses. Destes, 10 pacientes (33,33%) realizaram TMO alogênico, sendo que 3 ainda aguardam avaliação do centro transplantador e um foi convocado para TMO em maio de 2025. A mediana de tempo entre o encaminhamento ao transplante e sua realização foi de 8 meses, variando de 3 a 18 meses. Dentre os 16 pacientes que não realizaram TMO após sua indicação, os principais motivos foram óbito (50%) e paliação (31,25%). Dos 61 pacientes aos quais não houve encaminhamento ao transplante os principais motivos também foram óbito (67,2%) e paliação (19,67%).
Discussão e conclusãoEmbora haja indicação precoce ao TMO, ainda houve atraso de 8 meses até a sua realização. O principal motivo do não encaminhamento ao transplante foi óbito e paliação por perda de performance. Dentre os pacientes que foram encaminhados ao TMO porem não realizaram o procedimento, a principal causa foi óbito por doença recidivada ou refratária após um ou mais esquemas de quimioterapia. Enfatiza-se, assim, a necessidade de acesso precoce ao TMO para pacientes de maior risco. Dos 55 centros de transplante não aparentado no país, nenhum se encontra na região Norte. Além da questão estrutural, fatores como idade, raça e escolaridade possuem impacto direto na morosidade do acesso ao transplante. Conclui-se que a Região Norte do Brasil enfrenta desafios históricos no acesso à terapias de alta complexidade como o transplante de medula óssea alogênico. Essa disparidade estrutural dificulta o acesso e prolonga o tempo de espera. Destaca-se, a necessidade de políticas públicas e ampliação de infraestrutura em saúde a fim de fornecer equidade no acesso ao tratamento.




