HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA gestação impõe aumento na demanda de ferro, necessário ao crescimento fetal e às adaptações fisiológicas maternas. A anemia materna, prevalente em países de baixa e média renda, afetou 35,5% das gestantes no mundo em 2023 e está associada a desfechos negativos para mãe e bebê.
ObjetivosInvestigar a associação entre anemia materna e prematuridade no município do Guarujá-SP.
Material e métodosCorte transversal da linha de base da Coorte de Nascimentos Guaru-yá (CAAE 77667124.0.0000.5515), que incluiu todos os nascimentos de residentes do município entre abril/2024 e março/2025. Os dados foram coletados na maternidade durante a internação hospitalar. Anemia foi definida como hemoglobina < 11,0 g/dL no parto. O desfecho foi prematuridade (< 37 semanas), estimada com o método de Capurro, aplicado por profissionais treinados. A associação foi avaliada por regressão logística múltipla, ajustando para idade materna, escolaridade, cor da pele, índice de riqueza, presença de companheiro, número de filhos, pré-natal, diabetes, hipertensão, infecção urinária, sífilis, tabagismo, uso de álcool, drogas e suplementação com sulfato ferroso. Foram estimadas razões de chances (OR), intervalos de confiança de 95% (IC95%). Os dados foram gerenciados na plataforma REDCap 14.4.0 e analisados no software Stata 13.1.
ResultadosForam avaliadas 2.137 puérperas, com idade média de 27,7 anos (DP 6,5). A prevalência de anemia foi de 25,5% e a de prematuridade, 10,2%. Após ajuste para variáveis sociodemográficas, obstétricas e clínicas, a anemia materna foi associada a maior chance de prematuridade (OR = 1,96; IC95%:1,41–2,72; p < 0,001), representando aumento de 96% na chance de parto prematuro.
Discussão e conclusãoEvidências semelhantes foram observadas em outras coortes brasileiras, como a MINA-Brasil, que destacam o impacto de deficiências nutricionais sobre anemia e desfechos neonatais adversos. A anemia reduz a capacidade de transporte de oxigênio e nutrientes ao feto, podendo comprometer o crescimento intrauterino e aumentar o risco de parto prematuro. Apesar da mensuração da hemoglobina ter ocorrido no parto, ela pode refletir anemia persistente, especialmente no terceiro trimestre, fase crítica para crescimento fetal e maturação placentária. Os efeitos deletérios da baixa hemoglobina provavelmente se iniciam antes do parto, e a medida pontual pode funcionar como marcador do estado nutricional materno nas semanas anteriores. Estratégias de rastreamento e intervenção precoce, incluindo suplementação e monitoramento no pré-natal, são essenciais para reduzir esse desfecho, sobretudo em populações vulneráveis. A anemia materna foi associada ao aumento significativo na ocorrência de partos prematuros. Qualificar o pré-natal com diagnóstico e tratamento oportunos pode reduzir a prematuridade e seus impactos na saúde neonatal.
Referências:
Neves PAR, et al. Effect of Vitamin A status during pregnancy on maternal anemia and newborn birth weight: results from a cohort study in the Western Brazilian Amazon. European Journal of Nutrition, v. 59, p. 45–56, 2020.
World Health Organization. Anaemia in women and children. Geneva: WHO, 2025. Disponível em: https://www.who.int/data/gho/data/themes/theme-details/GHO/gho-nutrition.




