HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosRelatar a dificuldade no diagnóstico de Anemia Megaloblástica, um tipo de anemia carencial, desde a Atenção Primária à Saúde até a Alta Complexidade.
Materiais e métodosPaciente masculino, 53 anos, admitido à UTI, procedente da UPA, com história de adinamia, dor abdominal difusa, perda ponderal de 10 kg e parestesias em MMII há mais de ano. Laboratorialmente, apresentava pancitopenia. Apresentava também vômitos inter e pós-prandiais, com dificuldade de deambulação e hiposensitividade tátil em MMII, sendo solicitado vaga de UTI. Avaliado pela hematologia, apresentava situação de extrema vulnerabilidade social, com baixa ingesta alimentar. Referia quadro semelhante 6 meses antes desta internação, melhorado com hemotransfusão. Interrogado, apresentava parestesia tipo bota e luva. Ao EF, estava descorado ++/4, ictérico +/4, língua lisa e despapilada. Já havia sido submetido à transfusão de concentrado de hemácias. Laboratorialmente, apresentava pancitopenia, com Hb 5,4 g/dL; VCM 117 fl e RDW de 36,2%. Leucograma de 2000 mm3, neutrófilos de 760, plaquetas 128.000 mm3. Feito EDA, compatível com atrofia de mucosa gástrica (confirmada com anátomo-patológico), concluído diagnóstico como “anemia” megaloblástica. Tão logo após conhecimento da especialidade do caso e a HD de anemia carencial, orientado cuidados em leito de enfermaria e alta após EDA e reposição das vitaminas, com excelente resposta clínica e laboratorial.
DiscussãoA anemia megaloblástica tem como etiologia a deficiência de vitamina B12 e/ou folato, vitaminas hidrossolúveis necessárias a formação de eritrócitos, leucócitos e plaquetas que, se ausentes, induzem apoptose intramedular de precursores hematopoéticos por falhas na síntese de DNA e consequente pancitopenia. Embora classicamente associado a anemia, a deficiência de B12 também pode causar danos neurológicas, como os descritas no caso (hipossensibilidade tátil, dificuldade de deambulação). Classicamente conhecida como “anemia megaloblástica” e categorizada como Síndrome anêmica em livros-texto, a inespecificidade de sintomas, atrelados muitas vezes a quadro neurológico e, laboratorialmente o achado de pancitopenia ao hemograma, pode muitas vezes, trazer dificuldade diagnóstica, direcionando o médico a diagnósticos mais graves, que remetam a Síndromes de falência medular e, levando muitas vezes, ao descarte da anemia megaloblástica como hipótese diagnóstica. Como nem sempre a deficiência de B12 se apresenta com níveis séricos de B12 baixos, VCM superior a 115 fl (mais especifico), hipersegmentação de neutrófilos, por vezes, pode ser necessária a dosagem de homocisteína e ácido metilmalônico para a conclusão diagnóstica mas, exames de medula óssea, por exemplo, não são indicados e podem confundir o examinador, em razão de possíveis achados de displasia não clonal, relacionados a deficiência de vitamina.
ConclusãoDestarte, conclui-se que a dificuldade diagnóstica da anemia megaloblástica se resume à análise de exames laboratoriais sem associação à história e clínica do paciente, uma vez que a análise combinada confirma o diagnóstico. Ademais, embora não exista um erro semântico na “anemia megaloblástica”, esta terminologia pode ter implicações inadequadas no raciocínio clínico visto que, diferente da deficiência de ferro, pode haver citopenia das três series.




