HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosMais de 300.000 crianças nascem com anemia falciforme (AF) a cada ano no mundo — e cerca de 75% dessas ocorrências estão concentradas na África Subsaariana, onde a mortalidade infantil por AF pode chegar a 90% em contextos sem diagnóstico e tratamento precoce. Países como Nigéria, Gana e República Democrática do Congo apresentam taxas de portadores do gene HbS superiores a 30%, configurando um cenário de emergência genética silenciosa. Embora o teste de solubilidade com ditionito de sódio (SCST) seja reconhecido por sua alta sensibilidade (97–99%) e baixo custo (menos de US$ 1 por teste), sua aplicação direta em recém-nascidos é limitada pela presença predominante de hemoglobina fetal (HbF), que interfere na detecção da hemoglobina S e pode gerar resultados falso-negativos. Por esse motivo, propõe-se a testagem parental como alternativa mais eficaz, ética e tecnicamente adequada para identificar casais em risco, promover aconselhamento genético e iniciar estratégias de prevenção antes mesmo do nascimento.
ObjetivosPropor a implementação da triagem parental com SCST como estratégia comunitária de intervenção precoce em áreas de alta prevalência da hemoglobina S, visando o fortalecimento do aconselhamento genético, o planejamento reprodutivo e a redução da morbimortalidade por AF.
Material e métodosA proposta se baseia em três pilares metodológicos: levantamento epidemiológico, revisão técnico-operacional e modelagem de intervenção. O levantamento utilizou dados da OMS, da Sickle Cell Disease Coalition (SCD) e de periódicos como Lancet Haematology para identificar regiões com maior prevalência de HbS e carência de programas diagnósticos estruturados. Na análise técnico-operacional, compararam-se os principais métodos de rastreio (eletroforese de hemoglobina, HPLC e PCR) em relação à sensibilidade, especificidade, custo e aplicabilidade. O SCST demonstrou sensibilidade de 97–99%, especificidade de até 100% e custo inferior a US$ 1 por teste, com execução rápida, mínima infraestrutura e excelente desempenho em campo. A modelagem de intervenção propõe: • Capacitação de profissionais da atenção primária e agentes comunitários para realização e interpretação do SCST; • Oferta do teste em contextos pré-nupciais, programas de planejamento familiar e centros comunitários; • Inclusão sistemática da testagem parental no pré-natal, com aplicação do SCST nas primeiras consultas da gestante e do parceiro, permitindo o diagnóstico de casais portadores (HbAS) e o encaminhamento precoce para aconselhamento genético; • Estruturação de registros populacionais locais e articulação com políticas públicas de vigilância epidemiológica e prevenção de doenças hereditárias.
ResultadosA proposta visa demonstrar que a testagem parental com SCST é uma ferramenta eficaz, ética e economicamente viável para ampliar o acesso ao diagnóstico genético, reduzir a incidência de SCD e fortalecer o protagonismo reprodutivo de populações historicamente negligenciadas.
Discussão e conclusãoA triagem parental com ditionito não é apenas um teste: é uma chave para a autonomia reprodutiva, o planejamento genético e a dignidade sanitária de populações negligenciadas. Ao antecipar o diagnóstico e inserir a ciência nos espaços comunitários, esta proposta oferece não só prevenção, mas justiça sanitária, com base em ciência acessível, prevenção viável e protagonismo coletivo.




