HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA anemia falciforme é causada por uma mutação de nucleotídeo único no gene da cadeia beta da hemoglobina, o que resulta em hemólise crônica e alterações reológicas nos eritrócitos. Essa hemólise libera fragmentos que ativam o sistema imunológico, levando à ativação de neutrófilos, monócitos, plaquetas e células endoteliais e favorece o desenvolvimento do processo de vaso-oclusão, que induz isquemia-reperfusão, aumenta o estresse oxidativo e liberando radicais livres, perpetuando a inflamação. Consequentemente, os pacientes desenvolvem crises álgicas agudas e inflamação crônica persistente. Sabe-se que os linfócitos T participam ativamente desse processo inflamatório por meio da produção de citocinas, e são importantes mediadores da imunidade. Entretanto, poucos estudam a dinâmica de subpopulações de células T no processo imunomodulatório da anemia falciforme.
ObjetivosAvaliar o perfil imunofenotípico das células T em pacientes com anemia falciforme em crise vaso-oclusiva.
Material e métodosForam coletados 4mL de sangue periférico de 40 pacientes com anemia falciforme em estado estacionário e 37 em crise vaso- oclusiva (CVO), e destes, foi realizado o hemograma e imunofenotipagem. Foi utilizado um painel de anticorpos monoclonais para identificar subpopulações de linfócitos T e a aquisição foi realizada no equipamento FACS Canto II da BD. A frequência das células foi obtida pelo Software FlowJo v.10.8 e o armazenamento dos dados no programa Microsoft Excel 2010. A análise estatística dos dados foi realizada no programa GraphPad Prism v.8.0.
ResultadosNossos resultados demostraram maior envolvimento da imunidade inata em pacientes falciformes na CVO através do aumento de leucócitos (p = 0.01) e neutrófilos (p = 0.01). Quanto à frequência das subpopulações de células T, não foi observada diferença significativa entre ambos os grupos. Durante o perfil de crise vaso-oclusiva, entretanto, foi observado que as subpopulações de células CD8+ apresentaram uma característica de imunomodulação, enquanto as CD4+ uma característica de imunoregulação, de forma a intermediar o perfil inflamatório observado.
Discussão e conclusãoEmbora o papel dos linfócitos T na imunidade celular seja bem estabelecido, a importância de suas subpopulações no desenvolvimento da CVO na anemia falciforme permanece pouco explorada. Nossos resultados sugerem que os linfócitos T exibem características distintas conforme o estado do paciente, dada sua responsabilidade na liberação de mediadores inflamatórios, ativação de vias de sinalização e modulação das respostas imunes inata e adaptativa. Contudo, observamos um aparente desequilíbrio na resposta imune. Isso sugere que as variações no estado clínico, não se restringem apenas às concentrações dessas subpopulações, mas podem refletir também na alteração de suas funcionalidades. A condição clínica dos pacientes com anemia falciforme pareceu não influenciar na concentração das subpopulações de células T CD4+ e CD8+, mas na sua funcionalidade em regular a quantidade de células CD8+ circulantes. Ainda assim, salientamos a necessidade de mais estudos, a fim de aprofundar-se de forma multiparamétrica na função das células T, bem como durante outras condições clínicas dos pacientes.




