HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA neutropenia febril (NF) é emergência médica comum em pacientes com leucemia aguda, caracterizada por neutropenia grave e febre, associada a alto risco de infecção e mortalidade. O manejo evoluiu de tratamento apenas após isolamento do patógeno para antibioticoterapia empírica de amplo espectro, reduzindo óbitos. Contudo, o aumento de bactérias multirresistentes exige revisão constante dos protocolos, especialmente quanto à cobertura empírica para gram positivos resistentes, cuja real necessidade é discutível e depende do perfil microbiológico local. Este estudo avalia o impacto do uso empírico de vancomicina em neutropênicos de alto risco.
ObjetivosAvaliar o impacto das alterações no protocolo de NF sobre o perfil microbiológico, padrões de resistência e eficácia dos antibióticos utilizados em pacientes com leucemia aguda.
Material e métodosEstudo de coorte retrospectivo, incluindo pacientes adultos com leucemia aguda internados no serviço de Onco-Hematologia entre 2017 e 2022 que apresentaram ao menos um episódio infeccioso documentado. Dados extraídos de prontuários e sistemas laboratoriais incluíram: características clínicas, foco infeccioso, resultados de culturas, contagem de neutrófilos, antibióticos utilizados, tempo de uso e desfecho. Análises estatísticas descreveram a frequência e resistência de germes isolados (gram positivos e gram negativos), taxas de concordância entre terapia empírica e culturas e taxas de resposta sem escalonamento.
ResultadosForam analisadas 221 hemoculturas de episódios de neutropenia febril em 135 pacientes. Gram negativos corresponderam a 73,64% dos isolados, com destaque para Klebsiella pneumoniae (36,8%). Entre os gram positivos (minoria), Staphylococcus epidermidis foi o mais prevalente (6,81%). Vancomicina empírica foi utilizada em 56,8% dos eventos, sempre associada à cobertura para gram negativos. A taxa de desfecho favorável foi semelhante entre uso empírico (50,78%) e não uso (51,67%) de vancomicina (p = 0,906). Em eventos confirmados por gram positivos, houve tendência de melhor resposta com vancomicina (77,14% vs 65,2%; p = 0,384; NNT=8); para gram negativos, os resultados foram semelhantes entre os grupos. Gram positivos predominaram em infecções por acesso venoso periférico (82%) e sinusite (100%), enquanto gram negativos prevaleceram nos demais focos.
Discussão e conclusãoO uso empírico de vancomicina não se associou a melhora de desfecho quando considerados todos os microrganismos isolados, sugerindo ausência de benefício clínico robusto em uso rotineiro. Em infecções comprovadas por gram positivos, especialmente associadas a acesso venoso periférico, houve tendência de benefício, mas sem significância estatística devido ao tamanho amostral. O perfil epidemiológico local mostrou predominância de gram negativos mesmo em cenários tradicionalmente atribuídos a gram positivos, reforçando que a vancomicina deve ser reservada a situações de alta suspeita ou confirmação microbiológica. Os achados reforçam a importância de protocolos baseados em microbiota institucional para equilibrar eficácia, segurança e prevenção de resistência.
Referências:
Clark O, Clark LG, Paladini L, Clark CG, Fujii R, Engel T, et al. Revisão sistemática e análise de custo-minimização de lipegfilgrastim na profilaxia da neutropenia e da neutropenia febril relacionadas à quimioterapia citotóxica. J Bras Econ Saúde. 2017;9:242-50.
National Comprehensive Cancer Network (NCCN). Fever and neutropenia: clinical practice guidelines in oncology. Version 2.2018. Available from: https://www.nccn.org/professionals/physician_gls/pdf/febrile.pdf




