HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA enxertia neutrofílica é um importante marcador de desfecho no Transplante alogênico de Células-Tronco e Hematopoética (TCTH), principalmente em doenças não malignas, que apresentam uma maior incidência de falha de enxertia primária. Nesse grupo de doenças destacamos as hemoglobinopatias, doenças hereditárias que afetam a síntese da hemoglobina. Atualmente, a única terapia curativa disponível no Brasil para essas condições é o TCTH. Com os avanços nas técnicas de TCTH, os estudos têm buscado identificar marcadores, incluindo a dose de células CD34+ e de Células Nucleadas Totais (CNT) infundidas, que possam auxiliar na obtenção de melhores resultados.
ObjetivosAnalisar dados coletados, em um centro de referência entre 2010 e 2022, de pacientes pediátricos com hemoglobinopatias, correlacionando o tempo de enxertia neutrofílica com a dose de células CD34+ e de CNT infundidas no TCTH.
Material e MétodosForam coletados dados retrospectivos de prontuário médico de 31 pacientes transplantados no período de 2010 a 2022, sendo 18 (58%) do sexo feminino. Vinte e quatro (77%) pacientes eram portadores de Doença Falciforme (DF), 5 (16%) de talassemia dependente de transfusão e 2 (7%) de hemoglobinopatias instáveis. A mediana de idade (variação) foi 9 (1‒17) anos. Trinta (97%) pacientes receberam TCTH aparentado HLA idêntico e 3% haploidêntico. Todos receberam medula óssea como fonte de células progenitoras hematopoéticas. Os regimes de condicionamentos foram: FLU+BU+ATG em 27 pacientes, BU+CY+ATG em 3 pacientes e FLU+CY+TBI 200cGy em 1 paciente. Foram realizados os testes de Spearman para análise de correlação entre dose de células infundidas e tempo de enxertia neutrofílica. Valores de p < 0,05 foram considerados significantes.
ResultadosA enxertia neutrofílica ocorreu em 30 dos 31 pacientes (96,8%), com tempo médio (DP) de 22 dias (±3,6) e variação de 15 a 28 dias. A dose mediana (variação) de células CD34+ foi de 4,15 × 10⁶/kg e a dose média foi de 5,1 × 106/kg e variou de 1,39 a 15,22 × 106/kg. A dose de CNT variou de 1,63 a 21,64 × 108 células/kg (média: 5,25; mediana: 4,35; DP = 3,9). Não foi observada correlação significativa entre a dose de células CD34+ e o tempo de enxertia (r = -0,01971, 95% IC -0,3868 a 0,3528; p = 0,9177), nem entre CNT e o tempo de enxertia (r = -0,3323, 95% IC -0,6254 a 0,4287; p = 0,0728).
DiscussãoApesar de utilizadas como marcadores da qualidade do enxerto, as doses de células CD34 + e CNT não apresentaram correlação com o tempo de enxertia neutrofílica neste estudo. Estudos recentes, questionam a existência de um limiar fixo de células CD34+ necessário para recuperação hematológica, argumentando que a relação é contínua e multifatorial. Outros propõem que a CNT, por englobar um espectro mais amplo de subpopulações celulares, pode oferecer melhor poder prognóstico em termos de Sobrevida global e Livre de Eventos (SLE), ainda que não estejam correlacionados com o tempo de enxertia.
ConclusãoNeste estudo pediátrico, não foi observada correlação entre as doses infundidas de células CD34 + e CNT e o tempo de enxertia neutrofílica, sugerindo que, embora importantes, esses parâmetros devem ser avaliados em conjunto com outros fatores clínicos e imunológicos do TCTH. Novos estudos multicêntricos, com amostras maiores e análises multifatoriais, são necessários para elucidar melhor os preditores de enxertia precoce e SLE nesse grupo de pacientes.




