HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA anemia falciforme (AF) é uma hemoglobinopatia hereditária, descrita como a primeira doença de base molecular e fundamentada pela produção de hemoglobina S, causando rigidez eritrocitária. O uso de células-tronco hematopoéticas (HSPCs), especificamente células CD34+, como terapia gênica, tem se mostrado promissor e requer modelos pré-clínicos adequados. Camundongos NBSGW representam uma plataforma satisfatória para avaliação funcional de CD34+, uma vez que são imunodeficientes e não necessitam de condicionamento prévio à enxertia das células humanas. Entretanto, são escassos os dados sobre o comportamento das CD34+ de pacientes falciformes (CD34+_SS), sem edição gênica, no modelo murino.
ObjetivosAvaliar a capacidade de enxertia e longevidade das células CD34+_SS sem edição gênica, isoladas de pacientes com o diagnóstico de AF, em camundongos NBSGW sem mieloablação prévia.
Material e métodosCélulas mononucleares foram isoladas a partir do sangue total de paciente AF (sem mobilização prévia) por gradiente de densidade (Ficoll-paque), e selecionadas por separação imunomagnética para a fração CD34⁺. Dois camundongos NBSGW foram utilizados: um para a infusão de 38.500 células CD34⁺ (99% viabilidade); outro para a infusão de PBS, como controle. A via de administração foi a retro orbital, com os animais sob anestesia inalatória (isoflurano). Os animais foram acompanhados por 74 dias, tendo seu sangue coletado por via submandibular nos dias (time points) 0, 14, 42 e 72, para avaliação do perfil de hemoglobinas por HPLC.
ResultadosA quantidade de células CD34+_SS infundidas foi modesta, como esperado para a fase piloto, mas suficiente para validar o protocolo de manejo e transplante no animal, bem como a detecção pelo método cromatográfico. Não houve sinais de toxicidade ou mortalidade no modelo murino devido às células. A análise revelou alteração na composição das hemoglobinas no decorrer dos 74 dias de acompanhamento, com aparecimento de hemoglobina anômala no intervalo de retenção 1.73-1.97 e maior pico no D42.
Discussão e conclusãoOs dados preliminares demonstram que células CD34+_SS são capazes de sobreviver no organismo do modelo murino NBSGW, após o enxerto, sem qualquer pré-modificação genética, prévio condicionamento mieloablativo do animal ou estímulo à liberação celular do paciente. Apesar do uso de apenas um animal, os achados estabelecem um baseline funcional relevante, sugerindo a viabilidade do modelo. Futuros ensaios com maior número de animais e células editadas geneticamente permitirão comparações mais robustas sobre o impacto da mutação falciforme e os desdobramentos da edição gênica. Este estudo piloto confirma a viabilidade da enxertia de células CD34⁺_SS e o acompanhamento das possíveis alterações provocadas em camundongo NBSGW. Com isso, iniciamos uma base metodológica sólida para experimentos subsequentes, aí sim com células progenitoras hematopoéticas geneticamente modificadas e a avaliação de impactos sistêmicos. O autor principal é bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Este estudo foi financiado pela CAPES (processo 332608/2020-9).




