A associação entre Venetoclax e Azacitidina foi uma revolução no tratamento de leucemia mieloide aguda (LMA) em pacientes inelegíveis à quimioterapia intensiva, sendo um marco importante na terapêutica dessa doença. No entanto, essa revolução não chegou a todos que necessitam e a associação ainda não foi incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS). Contribuir com dados acerca desse tratamento na população local poderá ajudar a atingir a equidade no tratamento entre o sistema de saúde suplementar e o SUS, uma das principais metas da ABHH.

O presente estudo retrospectivo tem como objetivo avaliar casos de LMA inelegíveis tratados no Hospital Santa Izabel (HSI), uma unidade filantrópica com perfil de pacientes tratados através do sistema público e privado. Foram analisados os prontuários de indivíduos tratados entre novembro de 2021 e junho de 2025, sendo avaliados dados epidemiológicos (mediana de idade e distribuição por sexo), além de distribuição de acesso (SUS por via judicial e planos de saúde), sobrevida global e mortalidade.

As informações desse trabalho foram adquiridas através da revisão de prontuário eletrônico da instituição, dos pacientes acompanhados entre novembro de 2021 e junho de 2025. Foram avaliados 16 casos de pacientes, sendo 1 paciente excluído por falta de dados de início do tratamento (sem descrição de data de início do tratamento, que iniciou em unidade externa). Foram considerados os dados de sobrevida entre a data de início da associação Venetoclax e Azacitidina, em prescrição, e a data da última avaliação registrada (evolução médica do internamento ou de consulta ambulatorial). A análise estatística foi realizada através do software SPSS versão 25. A média de sobrevida foi calculada pela curva de Kaplan-Meier.

Foram avaliados 15 casos de pacientes, com mediana de idade de 68 anos e predominância do sexo feminino (66%). Foram 2 pacientes (13%) com acesso ao tratamento pelo SUS (através de liminar judicial), enquanto os demais tiveram acesso através de saúde suplementar. A média de sobrevida global foi de 11,8m (IC de 95% entre 4,7-18,8m). A taxa de óbitos até junho de 2025 foi de 46%.

Os dados apresentados representam uma casuística de vida real de pacientes tratados com venetoclax e Azacitidina. Os dados de sobrevida global e mortalidade podem ter sido subestimados devido limitação de avaliação dos pacientes (alguns seguiram acompanhamento em outras unidades após a alta, porém considerada sobrevida a última avaliação no serviço do HSI). Conhecer nossa população e demostrar o impacto em um estudo de vida real é um passo importante na busca pela equidade no sistema público de saúde, viabilizando análises de custo e trilhando o caminho para reduzir as diferenças no acesso às novas terapias.