HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA leucemia mieloide crônica (LMC) é caracterizada pela translocação (9;22) e pela formação do gene de fusão BCR-ABL1, cuja proteína resultante promove proliferação mieloide descontrolada. O uso de inibidores de tirosinoquinase (ITQs) transformou seu manejo, proporcionando sobrevida semelhante à população geral. Apesar de toxicidades conhecidas - gastrointestinais, musculoesqueléticas e metabólicas, alterações ósseas têm sido pouco exploradas. Há relatos raros de necrose avascular de cabeça femoral e necrose de mandíbula associadas a ITQs, mas a ocorrência de desgaste ósseo progressivo, sem necrose estabelecida, pode representar um espectro intermediário ainda não descrito.
ObjetivosO objetivo deste trabalho foi investigar a ocorrência de alterações ósseas subclínicas ou de desgaste em pacientes com LMC, avaliando possíveis associações com tempo de tratamento, características clínicas e perfil terapêutico.
Material e métodosFoi realizado um estudo observacional retrospectivo, incluindo 291 pacientes adultos com diagnóstico de LMC acompanhados no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR) no período de 2000 a 2024. As variáveis clínicas, laboratoriais e terapêuticas foram obtidas por meio de revisão de prontuários físicos e registros eletrônicos. Entre os 1.440 eventos não hematológicos registrados, foram identificados e analisados aqueles classificados como “dentários” nos prontuários, tais como: perda dentária, mobilidade aumentada e fragilidade dentária; como potenciais manifestações de comprometimento ósseo sem necrose estabelecida. Não foram realizados exames de imagem específicos, sendo a avaliação baseada em dados clínicos documentados e evolução descrita nos registros.
ResultadosA prevalência estimada de eventos dentários sugestivos de desgaste ósseo foi de 3,1% (n = 9), ocorrendo com maior frequência em pacientes em uso prolongado (>5 anos) de imatinibe ou nilotinibe. Não foi observada correlação significativa com idade, sexo ou fase da LMC. Houve sobreposição com outros eventos musculoesqueléticos, como dor, rigidez e limitação funcional. Um caso de necrose mandibular foi identificado em paciente com uso prolongado de imatinibe após recaída de transplante de medula óssea.
Discussão e conclusãoOs achados sugerem que alterações ósseas subclínicas ou de desgaste podem ocorrer em usuários crônicos de ITQs, possivelmente relacionadas à inibição de quinases envolvidas no metabolismo ósseo, como PDGFR e c-KIT. Essas alterações podem representar uma fase prévia e potencialmente prevenível da necrose óssea. Conclui-se que tais manifestações merecem investigação sistemática, pois a identificação precoce pode permitir intervenções antes da instalação de dano irreversível. A vigilância clínica contínua deve ser incentivada, de forma a prevenir complicações tardias e preservar a qualidade de vida dos pacientes.




