HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA aloimunização eritrocitária é uma complicação recorrente da terapia transfusional em pacientes com doença falciforme (DF), influenciada por disparidades antigênicas entre doadores e receptores, polimorfismo genético do sistema RH e inflamação crônica da DF.
ObjetivosAnalisar o perfil fenotípico eritrocitário e a ocorrência de aloanticorpos em pacientes com DF, correlacionando-os à exposição transfusional e à imunogenicidade dos principais antígenos.
Material e métodosEstudo retrospectivo e descritivo (2010–2024) de pacientes adultos com DF aloimunizados e não aloimunizados (PAI+ e PAI−) e do perfil antigênico de doadores do HEMOSE. Variáveis: idade, sexo, número de transfusões, fenótipos ABO, RH, KEL, MNS, FY, JK, P1PK, LE, LU e especificidade de aloanticorpos/autoanticorpos. Dados foram estruturados em planilhas, importados para o R (v.4.5.0) com readxl e analisados com os pacotes table1, ggplot2, dplyr e igraph. Aplicaram-se testes t de Student, Mann-Whitney, qui-quadrado ou Fisher. Coocorrência de aloanticorpos foi representada em redes modulares. Regressão binomial (glm) estimou a associação entre transfusões e aloanticorpos (OR; IC95%). A exposição antigênica foi estimada pelo método de Giblett.Aloimunização foi identificada em 24,81% dos pacientes sendo anti-RH3 e anti-KEL1 os aloanticorpos mais frequentes. A análise de coocorrência indicou associações entre anti-KEL1, anti- RH3 e anti-MNS3. O grupo PAI+ recebeu, em média, 13 transfusões versus 5 no grupo PAI− (p < 0,001). Fenótipos como R1Ro, Ror’ e RoRo, comuns em afrodescendentes, mostraram maior associação à aloimunização. Antígenos RH:1,2,3; KEL:1; MNS:3; FY:1,2; JK:2 apresentaram maior imunogenicidade.
Discussão e conclusãoA aloimunização na DF está fortemente associada à exposição recorrente a antígenos eritrocitários incompatíveis, evidenciada pela maior freqüência de aloanticorpos em pacientes politransfundidos. A maior prevalência de anticorpos anti- RH3 e anti-KEL1, bem como suas associações com anti-MNS3, reforça a relevância dos sistemas RH, KEL e MNS. A predominância de fenótipos como R1Ro, Ror’ e RoRo entre os pacientes aloimunizados destaca o papel da ascendência africana através da sua diversidade antigênica e genética em relação aos doadores locais. Tais incompatibilidades elevam o risco imunológico e justificam a necessidade de estratégias transfusionais baseadas em genotipagem eritrocitária e bancos étnico-fenotípicos, visando à prevenção da aloimunização em populações altamente miscigenadas. A elevada taxa de aloimunização e de coocorrência de aloanticorpos observados reflete a heterogeneidade fenotípica entre doadores locais e pacientes com doença falciforme.
Referências:
Smith AJ, Pereira LC, Oliveira MPS, et al. Redução da aloimunização eritrocitária em pacientes com doença falciforme por meio de genotipagem eritrocitária: estudo multicêntrico. Transfusion Medicine and Hemotherapy. 2024;51(1):25-33.
Lopez GF, Almeida RS, Souza DV, et al. Bancos de sangue com perfis étnico-fenotípicos para pacientes afrodescendentes: impacto na compatibilidade transfusional. Revista Brasileira de Hemoterapia. 2024;12(4):145-52.
Fernandes AP, Costa HJ, Silva CEM, et al. Estratégias personalizadas na hemoterapia: eficiência da introdução de painéis fenotípicos ampliados em hemocentros brasileiros. Journal of Ethnic Transfusion. 2024;8(2):67-74.




