O objetivo do estudo foi determinar a incidência de possíveis reinfecções por SARS-CoV-2 em doadores de sangue de um hemocentro público referência da Organização Pan-Americana de Saúde, localizado no estado de São Paulo.

O presente trabalho utilizou os dados de um estudo de coorte prospectivo, com a coleta de amostras de sangue e saliva de 152 doadores de sangue, no período de julho de 2021 a janeiro de 2022. Desse total, 107 são casos que tiveram sorologia prévia positiva para SARS-CoV-2 e 45 são controles negativos. Os participantes foram acompanhados em quatro visitas ao hemocentro, a cada dois meses, para a coleta de amostras e relatos de sintomas e vacinação. Posteriormente, foram realizados testes sorológicos e RT-PCR em tempo real para detecção de SARS-CoV-2 em todas as amostras.

Dos 152 participantes, 13 (8,6%) apresentaram resultados de RT-PCR positivos para SARS-CoV-2, sendo observado 7 casos de possíveis reinfecções e 6 casos recém-infectados. Avaliando apenas os participantes positivos, 8 (61,5%) são do gênero feminino e 5 (38,5%) do gênero masculino. 100% dos participantes positivos alegaram estarem vacinados com ao menos duas doses da vacina para COVID-19, 2 (15,4%) declararam sintomas de COVID-19 durante a coleta de amostras, enquanto 11 (84,6%) negaram a presença de sintomas. Com relação a faixa etária dos participantes infectados, 2 possuíam de 19‒28 anos, 4 de 29‒38 anos, 3 de 39‒48 anos, 3 de 49‒58 anos e 1 doador de 62 anos.

Foi evidenciado a possível reinfecção por SARS-CoV-2 em 7 participantes, como também 6 novas infecções nos casos controle. Tal achado, associado com o fato de que todos os participantes positivos estavam vacinados no período em que as amostras foram coletadas, sugere a tendência de que mesmo com a vacinação ainda é possível infectar-se pelo vírus, além de que a infecção prévia não confere imunidade duradoura, o que foi constatado também em outros estudos. Todavia, é interessante destacar que a maioria dos participantes infectados foram assintomáticos (84,6%), o que propõe que a vacinação promove a diminuição da gravidade dos casos. Os nossos achados também demonstraram que nas faixas etárias de 29 a 59 anos houveram mais participantes infectados, sendo justamente as faixas etárias expostas a situações de risco, possivelmente devido a necessidade de locomoção e trabalho. Ademais, o número apresentado de casos positivos pode ser em razão da diminuição das restrições de distanciamento social.

As nossas análises, apesar de apontarem para o surgimento de novos casos de SARS-CoV-2 na população estudada, confirmaram o importante papel da vacinação, visto que foi observado a diminuição de indivíduos sintomáticos e casos graves. Por fim, em nossos resultados preliminares foram constatadas prováveis reinfecções pelo vírus, nas quais serão necessários testes adicionais para confirmação desse achado.