Com o início da pandemia de COVID-19 em 2020, houve um aumento importante na demanda dos serviços de saúde assim como nos laboratórios de análises clínicas. O objetivo deste trabalho é avaliar o impacto da pandemia no perfil de exames de um laboratório de hemostasia da região da grande Florianópolis (SC).

Foram avaliados dados estatísticos de número de exames realizados de Tempo de Protrombina (TP), Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPA), Dosagem de Fibrinogênio, D-Dímero (DD), Anticoagulante Lúpico (AL), Dosagem de Antitrombina (AT), Proteína C Funcional (PC), Proteína S Funcional (PS), Proteína S Livre (PSL), Dosagem de Fator VIII (FVIII), Tempo de Trombina (TT), em 2019 (pré-pandemia), em comparação com volume de exames realizados nos de 2020 e nos primeiros sete meses de 2021.

No ano de 2020, foi observada diminuição no número de todos os exames, com exceção do Fibrinogênio e do DD que apresentaram um aumento significativo em 2020 e 2021. Em relação ao ano de 2019, o fibrinogênio teve um aumento na média mensal de exames em 2020 de 93%, e de 285% em 2021. Também em relação ao ano de 2019, o DD teve um aumento de 306% em 2020, e de 769% em 2021. Em 2021 foi observado um aumento nos exames AL (13%), AT (11%) e TT (73%) em relação ao ano de 2019. Os demais exames não apresentaram aumento da demanda.

A diminuição no número dos exames no ano de 2020 foi um reflexo da queda no movimento de pacientes ambulatoriais no período de isolamento da pandemia. Em 2021 o aumento no número de exames foi devido ao agravamento do número de casos na região, com consequente aumento no número de internações. O grande aumento nos exames de Fibrinogênio e D dímero era esperado devido à natureza inflamatória e trombótica da doença. Eventos trombóticos ocorrem em até um terço dos pacientes com COVID-19, sendo predominantemente embolia pulmonar, e são associados com doença mais severa e mortalidade aumentada. Este fato pode estar associado ao aumento da demanda de exames para investigação de risco e de eventos trombóticos, como o Anticoagulante Lúpico e a Antitrombina.

Através da análise dos dados, conclui-se que a pandemia determinou importantes impactos no laboratório de hemostasia, por conta das complicações trombóticas associadas à COVID-19.