O hemograma e a dosagem de parâmetros inflamatórios como a proteína C reativa (CRP) têm se mostrado como ferramentas para avaliar o estado geral de pacientes com a doença do coronavírus de 2019 (COVID-19), além de ajudar a predizer a gravidade da doença e o estado inflamatório que o paciente se encontra. Este estudo se propôs a comparar os dados do hemograma e de CRP de pacientes críticos internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Municipal Souza Aguiar, Rio de Janeiro, RJ, de acordo com a positividade para COVID-19 no período de 2020 a 2021.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Saúde da Universidade Federal Fluminense pólo de Nova Friburgo com anuência da Secretaria Municipal de Saúde no que se refere ao Hospital Municipal Souza Aguiar (CAAE: 34636620.0.0000.5626 de 20/08/2020). Noventa e duas amostras de conveniência foram selecionadas dos pacientes internados na UTI do Hospital Municipal Souza Aguiar. Destes, 46 pacientes eram positivos para o teste de RT-PCR para SARS-CoV-2 (COVID-19 positivos) e 46 eram negativos (COVID-19 negativos). Foram analisados os valores de hemoglobina, volume corpuscular médio (VCM), contagem de plaquetas, volume plaquetário médio, contagem de leucócitos totais, contagem absoluta de neutrófilos e linfócitos e relação neutrófilo/linfócito (NLR), além da dosagem de CRP. Os dados foram apresentados como mediana (percentil 25 – percentil 75).

Quando comparados os grupos conforme positividade para COVID-19, foram observadas maiores concentrações de CPR nos pacientes com COVID-19 (141,1 (94,7 - 214,2) mg/dL) do que os pacientes negativos para a doença (100,0 (78,8 - 139,4) mg/dL, p = 0,017). Os parâmetros avaliados foram semelhantes entre os dois grupos. Quando a análise foi realizada quanto à sobrevivência no grupo total de pacientes internados em UTI, os pacientes sobreviventes apresentaram maior contagem de plaquetas (274,0 (184,0 - 387,5) × 103/mm3vs. 215,0 (130,0 - 317,0) × 103/mm3, p = 0,043), menor contagem de leucócitos totais (11,9 (8,9 - 16,4) × 103/mm3vs. 14,9 (11,1 - 20,3) 103/mm3, p = 0,042), menor contagem de neutrófilos (9,9 (6,9 - 13,8) vs. 12,5 (9,2 - 15,9), p = 0,019) e menor NLR (8,6 (6,4 - 12,6) vs. 14,1 (7,5-26,5), p = 0,011).

Não foram observadas diferenças significantes quanto aos parâmetros do hemograma em pacientes com COVID-19 ou sem a doença. Apenas a CRP foi maior nos pacientes com COVID-19. No entanto, este marcador não apresentou diferença quando considerado o desfecho sobrevivência. As contagens de plaquetas foram maiores nos pacientes sobreviventes, e a contagem de leucócitos totais, neutrófilos e NRL foi maior nos pacientes não-sobreviventes. Embora NRL venha sendo considerada um parâmetro indicativo do agravamento da COVID-19 em diversos estudos, nossos dados mostraram que essa razão pode ser considerada um indicador de agravamento mais abrangente em pacientes críticos, independentemente da doença de base.

Maiores concentrações de CRP foram associadas à COVID-19, enquanto menores contagens de plaquetas e maiores de leucócitos totais, neutrófilos e NLR foram associadas à maior risco de mortalidade em pacientes críticos internatos em UTI.