O objetivo do trabalho foi avaliar o valor prognóstico das razões neutrófilo-linfócito (RNL), linfócito-monócito (RLM) e plaqueta-linfócito (RPL) obtidas a partir de hemogramas iniciais de pacientes do Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (HEMORIO) diagnosticados com Leucemia Mieloide Aguda (LMA).

Neste estudo retrospectivo foi analisada uma amostra de 113 pacientes diagnosticados com LMA no HEMORIO entre 01 de janeiro de 2012 a 31 de dezembro de 2014. Os resultados de hemogramas no dia do diagnóstico ou nos 15 dias anteriores foram obtidos a partir do sistema de informática laboratorial do HEMORIO. Estimou-se a curva ROC para determinar os melhores pontos de corte das razões calculadas, que posteriormente foram escolhidos pela maior sensibilidade e especificidade conjuntas observando a área sob a curva. A sobrevida global em 5 anos foi obtida pelo método de Kaplan-Meier e testes Log-Rank e os riscos ajustados pelas variáveis de estudos estimados por modelos multivariados de Cox.

Com o aumento da RNL, aumenta também o risco de óbito nos pacientes (RR: 1,07; IC95%: 1,02 – 1,13). Já a RLM alta impactou aumentando significativamente sobrevida desses pacientes (p=0,016), apesar da mesma também aumentar fracamente o risco relativo (RR: 1,01; IC95%: 1,00 - 1,02). A razão plaqueta-linfócito (RPL) alta também aumentou a sobrevida (RR: 1,01; IC95%: 1,00 – 1,02), porém, o ponto de corte encontrado para esse parâmetro não foi o ideal. Hiperleucocitose (RR: 2,84; IC95%: 1,37 - 5,89) e monocitose (RR: 2,51; IC95%: 1,49 - 4,25) mostraram-se fatores independentes de mau prognóstico.

Sendo o HEMORIO o serviço público de hemocentro e atendimento especializado do estado do Rio de Janeiro quanto ao diagnóstico, tratamento e acompanhamento de pacientes com doenças hematológicas, a população estudada revelou-se uma amostra bastante representativa para toda essa região.  A análise multivariada revelou que houve associação linear entre a RNL e o desfecho, visto que a cada 0,0251 de acréscimo nessa razão, aumentou em 7% o tempo em risco de óbito em 5 anos. Para a RLM evidenciou-se fraca associação positiva entre a mortalidade e seu aumento progressivo, o que vai de encontro aos dados encontrados em outros trabalhos. Quanto à RPL, verificou-se que houve um aumento na sobrevida no grupo acima do ponto de corte quando comparados com os abaixo dele, em divergência com os resultados publicados. Porém, quando realizada a regressão de COX, os resultados não foram estatisticamente significantes.

Neste estudo foi possível observar uma relação linear entre o aumento da RNL e o risco de óbito em pacientes diagnosticados com LMA. Já as demais razões estudadas não apresentaram uma associação significativa. Hiperleucocitose e monocitose se mostraram indicadores de mau prognóstico. No entanto, destaca-se a necessidade de estudos multicêntricos a fim verificar a viabilidade da utilização de razões do hemograma como marcadores prognósticos iniciais e de baixo custo em pacientes com LMA.