
Doadores de sangue têm sido utilizados como uma população de conveniência para estimar a prevalência de anticorpos contra o SARS-Cov-2 em diversos países. Nosso objetivo foi avaliar a prevalência de anticorpos IgG e IgM contra SARS-CoV-2 nos doadores de sangue de São Caetano do Sul, durante diferentes períodos da pandemia.
MetodologiaEntre maio e outubro de 2021, coletamos amostras da soroteca de doadores de sangue para a realização deste estudo. Todos os doadores de sangue realizaram suas doações no município de São Caetano do Sul (MSCS). Utilizamos um teste rápido imunocromatográfico comercial (Humasis) para a detecção da proteína 2019-nCOV para SARS-CoV-2 nestas amostras. Este teste detecta qualitativamente a presença de anticorpos IgG e IgM deste vírus no sangue humano.
Resultados:No total, testamos 2.990 amostras de soro de doadores de sangue. A prevalência média de anticorpos (Acs) anti-SARS-CoV-2 na população avaliada foi de 25,5%; 23,7% de anticorpos da classe IgG, e 20,7% de anticorpos IgM. Houve variação da prevalência desses Acs durante os meses analisados. Considerando como teste positivo quando detectados Acs IgM e/ou IgG a maior prevalência de Acs ocorreu no mês de outubro (30,2%) e a menor em maio (20,7%), ou seja, uma variação de cerca de 50%.
DiscussãoDos resultados preliminares obtidos, observamos que a prevalência de anticorpos contra SARS-CoV-2 foi bem variável ao longo dos meses de estudo, dependendo da exposição da população a este vírus. No período deste estudo, nos dados oficiais do MSCS, foram realizados 3.931 testes em casos suspeitos de COVID-19 com 21,8% positivos; no início de maio este percentual foi de 24,6% dos testes e no final de outubro em torno de 35,0% Portanto, a maior prevalência geral dos Acs anticorpos em outubro encontrada neste estudo é semelhante à positividade de casos na população do MSCS. Vale informar, que durante todo o período do estudo, no MSCS, houve a circulação da variante delta do SARS-CoV-2. A maior limitação deste estudo foi a impossibilidade em obter dados demográficos dos doadores de sangue, a fim de refinar a compreensão das causas de variação da prevalência de anticorpos na população do nosso município. Para isto é necessário incluir na triagem de doadores perguntas mais precisas sobre exposição ao SARS-CoV-2, assim como implantar métodos de integração de dados em saúde no município.
ConclusãoConcluímos que doadores de sangue constituem uma amostra de conveniência útil e de fácil acesso para rastrear o impacto da pandemia em uma determinada região. O aprimoramento das pesquisas de anticorpos contra o SARS-CoV-2 em doadores de sangue, assim como a integração de dados em saúde, são necessárias para obter resultados em tempo real da prevalência de anticorpos anti-SARS-Cov-2 e proporcionar ações de vigilância em saúde em tempo real, para a melhoria das medidas de prevenção e controle e da saúde pública como um todo.