Caracterizada pela proliferação anormal de histiócitos derivados da medula óssea, a histiocitose de células de Langerhans (HCL) varia de 2,6 a 8,9 casos por milhão em crianças menores de 15 anos por ano, com uma idade mediana no diagnóstico de 3,5 anos, sendo a maior taxa antes de 1 ano de idade.

L.M.S.V., 4 anos, com história de início de lesão em mandíbula há aproximadamente um ano relatada pela genitora. Procurou atendimento com cirurgião-dentista, sendo orientado acompanhamento. Após oito meses, iniciou lesão maxilar. Negava emagrecimento, febre, dor local, hiporexia, sudorese ou outros sintomas. Na origem, realizou biópsia da lesão extraindo dente 84, com resultado de Histiocitose de células de Langerhans. Foi encaminhado ao Hospital de Câncer Infantojuvenil de Barretos, e no setor de Odontologia foi observado comprometimento importante de mandíbula e maxila do lado direito, envolvendo os tecidos ósseo (erosões ósseas), gengival (tecido granulomatoso e friável) e dentário (mobilidade severa). Paciente iniciou tratamento oncológico com vimblastina e prednisona na indução; realizou exodontia dos elementos 54, 55, 16, 85, 46, com remoção de tecido gengival comprometido macroscopicamente pela doença, em centro cirúrgico. Os fragmentos de tecido mole e elementos dentários foram encaminhados para a análise anatomopatológica, que confirmou o diagnóstico de LCH. Após cicatrização, observou-se exposição radicular dos elementos 53 e 83, associado à recessão gengival, sendo realizado orientação de higiene bucal e aplicação de verniz fluoretado. Atualmente, encontra-se em tratamento quimioterápico e acompanhamento odontológico para posterior reabilitação protética.

A HCL é uma doença que possui várias manifestações clínicas, sinais e sintomas de acordo com o tecido e órgãos acometidos. As lesões bucais são muitas vezes as únicas ou principais manifestações da doença e o diagnóstico precoce contribui positivamente para o tratamento. Diversas patologias orais e sistêmicas com manifestações bucais são subnotificadas por não serem realizadas biópsias, ressaltando a sua importância para o diagnóstico.

O relato mostrou ser imprescindível o olhar clínico do cirurgião-dentista para o correto e precoce diagnóstico de doenças sistêmicas com manifestações bucais e da sua atuação na equipe multidisciplinar oncológica, realizando o acompanhamento odontológico durante a terapia antineoplásica para minimizar complicações e planejar a reabilitação oral após cirurgias extensas.