Necrose de medula óssea é um diagnóstico infrequente em que há destruição dos tecidos hematopoiéticos em grandes áreas do parênquima medular, sem envolvimento do osso cortical, achados identificados na biópsia de medula óssea (BMO). Representa um diagnóstico complexo e tem sido associado a uma variedade de condições médicas.

Descrever dois casos de necrose medular inicialmente diagnosticados por imunofenotipagem por citometria de fluxo (ICF) e medulograma e posteriormente confirmados por avaliação de BMO.

Paciente de 51 anos em tratamento para linfoma de Burkitt, apresentou pancitopenia após exposição ao fator estimulador de colônias de granulócitos. A medula óssea foi avaliada por suspeita de infiltração neoplásica. A ICF evidenciou distribuição alterada no gráfico de tamanho e complexidade (FSCxSSC) devido ao predomínio de restos celulares e houve ligação inespecífica dos marcadores testados. No medulograma foram identificados muitos restos celulares e nucleares com material amorfo intercelular. A avaliação conjunta dos exames foi compatível com necrose medular, posteriormente confirmada pela BMO.

Paciente de 71 anos com policitemia vera, apresentou quadro de plaquetopenia, levando a suspeita de progressão para leucemia aguda. Foi realizada coleta de aspirado de medula óssea (AMO) pois a paciente não tinha condições de realizar BMO. A ICF apresentou predomínio de debris e restos celulares e o medulograma evidenciou importante lise celular com aumento de células de aspecto imaturo com nucléolo evidente – achados sugestivos de necrose medular associada a leucemia aguda. Foi realizado novo AMO, confirmando os achados do exame anterior. Posteriormente foi realizada BMO que confirmou o diagnóstico de necrose medular.

A necrose medular é um processo mais frequentemente associado a neoplasias hematológicas e menos comumente a outras causas. O diagnóstico de necrose medular envolve revisão da história clínica do paciente, avaliação morfológica completa da medula óssea e, quando possível, a identificação da causa. A BMO é definitiva, mostrando material amorfo e eosinofílico disperso em espaços extracelulares, células raras com membranas citoplasmáticas mal delimitadas, núcleos irregulares e citoplasma encolhido.

Apesar de a ICF e a avaliação morfológica pelo medulograma necessitarem de analistas experientes, estes exames podem contribuir para agilizar o diagnóstico de necrose medular, visto que são metodologias com tempo de processamento inferior a avaliação de BMO.