Avaliar a incidência e evolução clínica da COVID-19 em pacientes com leucemia mieloide crônica (LMC) acompanhados em dois centros.

Estudo prospectivo, observacional, em andamento. Os pacientes responderam a dois questionários com 6 meses de intervalo. Foram incluídas perguntas relacionadas a sintomas, comorbidades, incidência e suspeita de COVID-19, contatos com pessoas infectadas, comportamento durante a pandemia, gravidade da infecção e vacinação. Cada questionário avaliou dados referentes aos últimos 6 meses. Adicionalmente, foram obtidos dados clínicos, laboratoriais e de tratamento dos prontuários médicos.Os dados foram coletados e armazenados no sistema REDCap.

Entre setembro de 2020 e julho de 2021, 225 pacientes responderam ao primeiro questionário e 121 também responderam ao segundo. Dos analisados, 127 (56,4%) eram homens. A mediana de idade 56,5 anos (19-90). A maioria estava em tratamento com inibidores de tirosina quinase (88.5%) e 11.5% sem tratamento, em protocolo de descontinuação. 80% dos pacientes realizaram distanciamento social e 30% dos avaliados tiveram algum familiar ou contato próximo com COVID-19.  Nos 6 meses anteriores à aplicação do primeiro questionário, 49 (21,9%) tiveram sintomas respiratórios, 30 (13,4%) febre, 7 (3,1%) pneumonia e 45 (20,1%) falta de ar ou tosse seca. Comorbidades: 79 (35,6%) hipertensão, 34 (15,3%) diabetes, 15 (6,8%) insuficiência renal, 13 (5,9%) doença pulmonar, 37 (16,7%) cardiopatia e 43 (19,4%) outra doença crônica. No total, 28 (12,4%) pacientes foram diagnosticados com COVID-19, enquanto 10 foram suspeitos. A mediana de idade foi 47 anos, 67,9% eram homens; 10 (37,0%) não estavam respeitando o distanciamento social. 36% tinham comorbidades: 12% diabetes, 28% hipertensão, 4% insuficiência renal, 24% cardiopatia e 12% outra doença crônica. 12 tiveram algum familiar ou contato próximo diagnosticado com COVID-19. Vinte e seis (92%) pacientes tiveram forma leve, sem necessidade de internação, um paciente de 71 anos em uso de nilotinibe e em RMM teve quadro grave, com óbito. 27 pacientes estavam na fase crônica e um em fase acelerada. Treze apresentavam resposta molecular maior, um resposta hematológica, 4 resposta citogenética completa, 3 MR4.0 e 7 MR4.5. Tratamento vigente: imatinibe (16), dasatinibe(5), nilotinibe (5)  e um sem tratamento. Houve um caso de reinfecção. Até o momento, 84 (37%) dos pacientes receberam vacinas para a COVID-19 (32 CoronaVac, 51 Oxford/AstraZeneca e um da Pfizer). Dentre os pacientes vacinados, 22 apresentaram reações adversas: 8 apresentaram febre, 6 dor de cabeça e 20 outros (dores no corpo, calafrios ou dores no local da injeção).

Pacientes com neoplasias hematológicas tem quadro mais grave e maior mortalidade associada a COVID-19. Na LMC a mortalidade parece ser levemente superior à da população geral, com pior evolução nas fases mais avançadas e em pacientes com comorbidades. Tivemos um caso de óbito e um de reinfecção, onde não podemos descartar a hipótese de uma variante.

A incidência de COVID-19 na população de LMC estudada foi de 12,4%, mais frequente em homens, com menor mediana de idade e menor taxa de isolamento social, com predomínio de casos leves e moderados. Todos os casos descritos ocorreram antes da vacinação.