A pandemia causada pelo COVID-19 tem sido um desafio para diferentes serviços incluindo o banco de sangue (BS), impactando negativamente e forçando, governos e agências regulatórias a desenvolverem protocolos para garantir a segurança do doador e estratégias para suprir a necessidade de hemocomponentes. O objetivo deste trabalho foi descrever as ações adotadas e os resultados alcançados com incremento da segurança e atender as necessidades transfusionais durante a pandemia.

Os principais métodos utilizados pela equipe de captação para convocar foram aplicativo WhatsApp Messenger para organizadores de grupos, e contato telefônico com o paciente e seus familiares através de abordagem direta e apresentação dos cuidados para evitar a contaminação por COVID-19. Diversas modificações foram implementadas para impedir a aglomeração e diminuir o tempo de permanência dos doadores: agendamento de doação e de pequenos grupos no máximo 10 pessoas, entrega de senhas, transporte dedicado, internalização do lanche no BS, pré-triagem, não convocar grupos de risco relacionados a COVID-19 e acessar por QR code material informativo, recomendações pós doação, pesquisa de satisfação e carteirinha. Os testes qui-quadrado ou fisher's foram utilizados para comparar as proporções e um valor de p menor que 0,05 foi considerado significativo.

Ao analisar os dados pré-pandemia (Julho a Dezembro 2018 e 2019) e durante a pandemia (2020 e Janeiro a Junho de 2021) observamos que a necessidade de transfusão cresceu 11,62% de 15506 para 17308 (p < 0,0001). As ações adotadas resultaram em aumento de 25,16% (p < 0,0001) no total de doadores (10769 vs 8604), gerando maior número de bolsas coletadas (10733 vs 8544) com p < 0,0001. Com redução da coleta externa (p < 0,001), foram 50 bolsas coletadas em 2020 e nenhuma em 2021, contra 1015 bolsas coletadas no pré-pandemia e de bolsas solicitadas de terceiros com p < 0,001 (81 vs 22). O tipo de doador foi alterado durante a pandemia, com significância estatística p < 0,001: aumento dos novos para sangue (4003 vs 5396) e aférese (16 vs 53), aumento  nos de repetição para aférese (1892 vs 2818) e redução dos doadores de repetição (1893 vs 1750) e esporádico (747 vs 628) para sangue. Em relação ao gênero, com significância estatística p<0,001: nos doadores de sangue houve aumento em ambos, masculino (3898 vs 4485) e feminino (1948 vs 3289). Na aférese houve aumento dos doadores masculino (1625 vs 2670). A faixa etária predominante nos 02 períodos analisados para doadores de sangue foi 18-29 anos e para aférese 30-39, indicando que a pandemia não interferiu na idade.

Ao considerar a insegurança dos doadores de serem infectados pela COVID-19 as ações aplicadas conseguiram suprir a demanda aumentada. Essas ações associadas as estratégias da equipe de captação e a afirmação e divulgação dos doadores de que o nosso serviço é um lugar a ser frequentado está refletido no aumento no total de doadores durante a pandemia.

As ações desenvolvidas foram capazes de atender o aumento da demanda transfusional mantendo os estoques sem necessidade de coleta externa e redução de bolsas solicitadas, mesmo durante a pandemia.