O interesse e aplicabilidade de biomateriais naturais na área médica têm crescido nos últimos anos. Dentre os materiais de interesse, destaca-se o poli (ácido lático) (PLA; advindo do bagaço da cana de açúcar) em blendas (mesclas) com polibutileno adipato-co-tereftalato (PBAT; de origem fóssil, podendo ser sintetizado de fontes naturais), como alternativa ao poli (cloreto de vinila) (PVC; plástico de matriz fóssil).

Triar blendas de PLA+PBAT, com e sem poli (limoneno) (PLM; antioxidante extraído da casca da laranja), como alternativas ao PVC para armazenamento de CH.

Foram confeccionadas mini-bolsas de 2 mL com o material referência (PVC) e 6 blendas de PLA+PBAT: 0,14+0,86 e 0,55+0,45 g/mL, puras e acrescidas de 0,05 e 0,10 g/mL de PLM. Os CHs foram obtidos a partir de sangue periférico de 3 voluntários saudáveis (anticoagulante CPDA 1:9) que assinaram TCLE após aprovação do CEP/Unicamp (CAAE: 71037223.9.0000.5404). Nos dias 0, 7 e 14 de armazenamento (D0, D7 e D14), foram determinados: percentual de hemólise (método de Harboe), glicose, lactato (Bioclin; Brasil), ATP (ATP determination kit-Invitrogen; EUA), pH (Quimis; Brasil), apoptose e viabilidade celular (por citometria de fluxo; Anexina-V e Calceína-AM - Invitrogen; EUA).

Em relação à hemólise, não foram encontradas diferenças significativas entre as blendas PLA+PBAT sem limoneno, em nenhum tempo de armazenamento, se comparados ao controle. As blendas contendo limoneno: 0,14 + 0,86 g/mL (PLA+PBAT) + 0,05 e 0,10 g/mL de PLM resultaram em hemólise superior aos limites estabelecidos pela ANVISA (0,80%) somente no tempo D14, com valores de 2,36 (±0,50)% e 0,84 (້ ±0,04)%, respectivamente. Não foram observadas diferenças significativas nos índices de glicose entre as amostras. Observou-se, no entanto, menor consumo de glicose para a blenda 0,55+0,45 g/mL PLA+PBAT sem PLM em função do tempo, particularmente entre D7 e D14 (p = 0,068), e aumento mais expressivo do ATP no mesmo intervalo (p = 0,023). Observou-se o esperado aumento de lactato com o tempo de armazenamento e redução de pH dentro da normalidade (7,80 a 7,50). A apoptose aumentou em função do tempo, atingindo, em D14, 2,13 (້ ±1,48)% no CH mantido na mini-bolsa de PVC e valores que variaram entre 0,71 (້ ±0,04) e 1,91 (້ ±1,10)% naqueles armazenados nas blendas. A atividade enzimática apresentou-se elevada em todas as amostras (≥ 99,4%), destacando-se os CHs incubados na blenda com mais PLA acrescidas de 0,05 e 0,010 g/mL de PLM, com maior Intensidade Média de Fluorescência (MFI) (4138 ± 104 e 3887 ± 411 vs. 3298 ± 781 ‒ PVC).

O PLA, PBAT e o limoneno são principalmente estudados para regeneração tecidual e sistemas carreadores de ativos. De nosso conhecimento, este é o primeiro estudo a investigar a aplicabilidade destes materiais em hemoterapia, avaliando a hemocompatibilidade de blendas PLA+PBAT como dispositivos para CH. As blendas avaliadas, especialmente as sem PLM mostraram destruição celular e consumo da glicose reduzidos, fatores que teoricamente prolongariam a viabilidade das hemácias. Por terem apresentado desempenho similar ao PVC na conservação do metabolismo e viabilidade das hemácias por 14 dias, as blendas de PLA+PBAT configuram-se como alternativas promissoras na composição de bolsas de CH, embora sejam necessários mais estudos que contemplem o período integral de armazenamento de um CH.