Journal Information
Vol. 42. Issue S2.
Pages 514 (November 2020)
Share
Share
Download PDF
More article options
Vol. 42. Issue S2.
Pages 514 (November 2020)
865
Open Access
INFECÇÃO POR SARS-COV-2 NA DOENÇA FALCIFORME – RELATO DA EXPERIÊNCIA EM UM CENTRO DE REFERÊNCIA NO BRASIL
Visits
1846
L.S. Oliveiraa, A.H.A. Resendea, C.D. Donadela, P.C.C. Bariania, P.L. Filgueirasa, R.M.S. Soaresa, R.S. Meloa, T.E. Gonçalvesa, G.C. Santisa,b, A.C.S. Pintoa,b
a Divisão de Hematologia, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP), Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil
b Hemocentro de Ribeirão Preto, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP), Universidade de São Paulo (USP), Ribeirão Preto, SP, Brasil
This item has received

Under a Creative Commons license
Article information
Full Text

Introdução: A pandemia da Covid-19 pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) tem se apresentado como um dos maiores desafios sanitários deste século. A falta de conhecimento científico sobre o vírus, sua alta velocidade de disseminação e capacidade de provocar mortes em populações vulneráveis geram incertezas sobre quais seriam as melhores estratégias a serem utilizadas para o enfrentamento da epidemia em populações com condições clínicas específicas. Pacientes com doença falciforme (DF) são considerados grupo de risco para desfechos desfavoráveis, devido à asplenia funcional e pelo risco de desenvolverem lesões de isquemia-reperfusão em vários órgãos. Além disso, a complicação aguda mais grave e com alta taxa de mortalidade é a síndrome torácica aguda (STA), que pode ocorrer associada a infecções respiratórias. Nesse contexto, relatamos a nossa experiência com oito pacientes que foram atendidos no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto – SP. Objetivo: Descrever o comportamento da infecção por SARS-CoV-2 em pacientes falciformes. Materiais e métodos: Foram realizados revisão de prontuário e análise descritiva do desfecho da infecção por Covid-19 em oito8 pacientes que fazem seguimento em nosso serviço. Resultados: Dos oito pacientes avaliados, seis eram do sexo feminino (75%), apresentam mediana de idade de 30,5 (variando de 28 a 45 anos), quatro pacientes apresentavamm genótipo SS (50%), dois com genótipo SC (25%), um com genótipo SBETA0 (12,5%) e um com genótipo SBETA+ (12,5%). Em relação ao tratamento da doença de base, quatro pacientes (50%) estavam em uso de hidroxiureia, dois (25%) estavam em regime de transfusões crônicas, um (12,5%) participava de estudo clínico e um realizava apenas seguimento ambulatorial. Dos oito pacientes, quatro (50%) tinham antecedente de STA e crises vaso-oclusivas, dois (25%) de vasculopatia cerebral e um (12,5%) apenas com antecedente de crises vaso-oclusivas. Todos os pacientes foram diagnosticados com infecção por Covid-19 por meio de swab nasal com realização de RT-PCR. Foi necessário internação em sete casos (87,5%), dos quais apenas um (14,2%) paciente precisou de Unidade de Terapia Intensiva e ventilação mecânica. Porém, esse único paciente realizou três RT-PCRs para SARS-CoV-2 durante internação, sendo apenas o último positivo, no contexto de extubação e melhora clínica, podendo se tratar de falso-negativo ou paciente ter adquirido Covid-19 durante a internação ocasionada por STA. O tempo de internação apresentou mediana de cinco dias (variando de 4 a 10 dias). Em relação ao tratamento, seis (75%) receberam suplementação com oxigênio, quatro (50%) receberam corticoide e seis (75%) receberam antibioticoterapia. Dentre as internações, cinco pacientes (71,4%) receberam transfusão sanguínea, e todos receberam hidratação intravenosa e anticoagulação profilática. Durante a evolução do quadro, cinco (62,5%) pacientes preencheram critérios para STA e três (37,5%) pacientes apresentaram apenas crise vaso-oclusiva; um dos pacientes com STA evoluiu com tromboembolismo pulmonar bilateral durante a internação. Não houve nenhum óbito. Discussão: Ao contrário do que todos esperavam, visto contexto de inflamação crônica e imunossupressão nessa população de pacientes, a nossa experiência mostrou que a infecção por Covid-19 nos doentes falciformes parece apresentar uma evolução benigna, com baixa mortalidade. Conclusão: São necessários mais estudos clínicos para que possamos entender melhor a evolução da infecção por Covid-19 em pacientes com doença falciforme.

Idiomas
Hematology, Transfusion and Cell Therapy
Article options
Tools