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Vol. 42. Issue S2.
Pages 354 (November 2020)
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CAMPANHAS DE DOAÇÃO DE SANGUE SOB A PERSPECTIVA DE MICHEL FOUCAULT
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S.V.M. Galvão, C.N. Fonseca, C.M.G. Moraes, I.S.C. Velloso
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG, Brasil
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O sangue sempre teve importância social na história da humanidade, refletindo ideias e crenças que perduram até os dias de hoje. Os bancos de sangue dispõem de um setor específico responsável pelo contato e captação de novos candidatos à doação de sangue e manutenção da periodicidade de doadores já vinculados. Mais do que apenas captar, existe uma preocupação contínua em fidelizar, buscando garantir doadores conscientes, de baixo risco, que conheçam o processo da doação e façam deste gesto solidário um costume regular. Fazer reflexões acerca das configurações das relações de poder das campanhas para motivar a doação de sangue, sob a ótica de Michel Foucault. Trata-se de uma revisão bibliográfica que tem como base artigos publicados em periódicos, do histórico das campanhas motivacionais para a doação de sangue sob a perspectiva de Michel Foucault. Constatou-se que os hemocentros brasileiros veiculam mensagens, algumas vezes em tom apelativo, com a intenção de influenciar comportamentos a partir da sensibilização. As campanhas em massa buscam sensibilizar as pessoas, porém, tem a intenção de recrutar aquelas que são sadias e que atendam aos requisitos normativos, de acordo com os critérios que legitimam a realização da doação de sangue. Nesse contexto, os serviços hemoterápicos podem ser considerados uma grande tecnologia de poder, uma vez que, ao contrário de outros órgãos, o sangue tem a capacidade de se regenerar, de se refazer após uma perda. Além disso, consiste em uma parte do corpo flexível, que pode ser fracionado e, ao final do processo, tem pouca semelhança com o estado em que é doado, o que aumenta o seu poder e o torna um produto biológico mais importante, se for considerado de uma tipagem sanguínea rara, ou em baixa nos estoques dos serviços de saúde, consequentemente, aumenta-se também a necessidade do controle sobre ele. As campanhas de amplo alcance para doação de sangue são destinadas a uma grande massa da população, que se reconhece como candidato à doação e comparece ao Hemocentro. As massas não necessitam do conhecimento dos intelectuais para saber, elas sabem previamente, tem sua própria teoria e contra discurso. Todavia, o sistema de poder existe, se intitula agente da consciência social, e é ele quem barra e invalida esse discurso, penetrando sutilmente em toda a trama da sociedade. A disciplina é aplicada ao sangue, bem como ao seu fornecedor, para garantir a eficácia de sua redistribuição. A preocupação cada vez maior das pessoas com as questões sociais e a importância da prática da cidadania formam um elo com a sociedade que em muito interessa aos setores de captação dos hemocentros, não tão despretensioso quanto possa parecer, mas, ao contrário, que age em benefício dos serviços hemoterápicos, a partir da publicidade e no sentimento altruísta imbuído no ato de doar sangue, auxiliando os envolvidos diretos nas campanhas de mídia de grande alcance no Brasil. Pode-se inferir que, culturalmente, a doação de sangue é associada a um ato de generosidade, as campanhas de doação de sangue, por meio da nobreza do voluntariado e do despertar de um certo tipo de obrigação moral e cívica, promovem atitudes significativamente mais positivas em relação à doação.

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Hematology, Transfusion and Cell Therapy
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